Dois apóstolos d’A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias encorajaram os seguidores da Igreja, na terça-feira, a entender melhor as semelhanças e as diferenças que têm com os 1,8 mil milhões de seguidores do Islão no mundo.
O Elder David A. Bednar disse: “As duas religiões são diferentes em muitas das doutrinas básicas, mas muitos dos valores e a forma como praticamos a nossa respectiva religião são semelhantes e refletem o nosso amor a Deus e ao próximo”. O Elder Gerrit W. Gong disse que a compreensão deve ser procurada de forma aberta e honesta, “com apreço por sermos irmãos e irmãs com uma humanidade comum”.
Os membros do Quórum dos Doze Apóstolos falaram juntos no campus da Universidade Brigham Young (BYU) em Provo, Utah, durante a sessão final da conferência de dois dias: “The Islamic World Today: Questões e perspectivas” (O mundo islâmico atual: Perguntas e perspetivas.
O Elder Gong disse que os santos dos últimos dias devem aprender mais sobre os seus vizinhos muçulmanos porque esse conhecimento “ajudar-nos-á a ser mais bondosos e precisos no que dizemos e sentimos uns pelos outros”. O Elder Bednar repudiou quaisquer comentários depreciativos e declarações generalizadas que os santos dos últimos dias tenham feito sobre os seguidores do Islão. Tais comentários, disse ele, são errados e ofensivos.
“Tais preconceitos fazem com que aqueles que se sentem assim ignorem a bondade e a amabilidade da esmagadora maioria dos muçulmanos”, disse o Elder Bednar. “Sugerir que todos os muçulmanos estão vinculados a crimes graves nos EUA ou em qualquer outro lugar do mundo é … incorreto e ofensivo para os muçulmanos. Os muçulmanos rejeitam tais ações, tal como os santos dos últimos dias fazem.
Todas as grandes religiões têm extremistas que interpretam mal os ensinamentos da sua própria religião ou que procuram fazer o que é errado em nome da religião”.
Os apóstolos enfatizaram os esforços conjuntos da Igreja com os muçulmanos para defender a liberdade religiosa e envolver-se no trabalho humanitário. Também apontaram os recursos que fortalecem o entendimento mútuo e destacaram várias crenças comuns que as duas comunidades religiosas partilham.
Liberdade Religiosa
“Ao nos reunirmos com líderes muçulmanos no mundo inteiro”, disse o Elder Gong, “falamos sobre a defesa da liberdade religiosa. As pessoas de fé têm de unir-se pela tolerância e dignidade das pessoas de todas as crenças religiosas”.
Alguns exemplos de líderes da Igreja que se associaram com líderes muçulmanos nos últimos anos incluem a reunião do Elder Gong com um líder muçulmano sunita na Ásia e na Oceania, em 2019; as reuniões dos últimos dois anos do Elder Bednar com líderes do Sudão no seu país e na Praça do Templo; e o Elder Ronald A. Rasband a conhecer vários líderes muçulmanos no Fórum Inter-religioso do G20 de 2021, na Itália.
O Elder Gong leu uma ordenança de 1841, da cidade de Nauvoo, que mostra tolerância religiosa durante o início do movimento dos santos dos últimos dias. “Seja ordenado pelo Conselho Municipal da cidade de Nauvoo”, diz o texto, “que os católicos, presbiterianos, metodistas, batistas, santos dos últimos dias, quakers, episcopais, universalistas, unitaristas, [muçulmanos] e de todas as outras seitas e denominações religiosas, sejam elas quais forem, terão tolerância livre e privilégios iguais nesta cidade”.
O Eder Bednar disse que a Igreja acredita “fortemente na liberdade religiosa, não apenas para nós, mas para todos. Tal como alguns muçulmanos nos Estados Unidos, ou em qualquer outro lugar do mundo, os membros da nossa Igreja sentiram os efeitos da perseguição e da discriminação, e unimo-nos a boas pessoas, em todos os lugares, para condenar tais ações”.
O Elder Bednar partilhou alguns dos comentários que fez sobre a liberdade religiosa no Fórum virtual Inter-religioso do G20 no ano passado, organizado pela Arábia Saudita. Neste fórum, ele pediu soluções para a COVID-19 que não retirassem as pessoas das experiências de adoração.
Trabalho Humanitário
Os dois apóstolos visitaram a Indonésia, o país com mais muçulmanos, logo após um tsunami devastador, em dezembro de 2004, que matou cerca de 225.000 pessoas. O Elder Bednar acabara de ser chamado para o Quórum dos Doze Apóstolos e o Elder Gong estava a trabalhar para a BYU.
O Elder Gong disse que se encontraram com o ex-presidente da Indonésia, visitaram a maior mesquita de Jacarta, doaram suprimentos médicos e humanitários necessários, e visitaram o centro da devastação. A Instituição de Caridade Santos dos Últimos Dias trabalhou com a Islamic Relief e com o governo indonésio para fornecer milhões de dólares de ajuda necessária.
O Elder Bednar disse que a ajuda pós-tsunami de ambas as organizações durou anos, pois permaneceram para reconstruir as comunidades.
“Este é apenas um dos muitos exemplos de como os santos dos últimos dias trabalharam juntos com os nossos irmãos e irmãs muçulmanos para ajudar a aliviar o sofrimento e garantir que toda a humanidade seja tratada com bondade, compaixão e respeito”, disse o Elder Bednar.
“Sou grato pela ajuda humanitária global da nossa Igreja, que se estende a pessoas em cerca de 200 países e territórios diferentes, independentemente de raça, religião ou etnia”, acrescentou o Elder Gong.
O trabalho humanitário mais recente da Igreja para a comunidade muçulmana inclui uma doação, em maio de 2019, para ajudar a reconstruir duas mesquitas atacadas em Christchurch, Nova Zelândia. O Elder Gong e o Presidente Russell M. Nelson visitaram os líderes muçulmanos e entregaram um cheque.
“Fiquei muito grato por estar ao lado do nosso Presidente da Igreja em amor e solidariedade com os nossos amigos muçulmanos”, disse o Elder Gong. “Estendemos a mão aos indivíduos que foram feridos nos ataques à mesquita. Fiquei feliz por podermos oferecer ajuda prática face à tragédia e dor, e prometer trabalhar juntos para aumentar a compreensão”.
Recursos para Aumentar a Compreensão Mútua
O Elder Gong apontou três recursos que a BYU disponibilizou para ajudar os muçulmanos e os santos dos últimos dias a entenderem-se melhor:
- Séries de Tradução Islâmica da BYU. Esta é uma coleção de 14 livros com algumas das contribuições filosóficas e escolásticas clássicas mais conhecidas do Islão.
- A exposição de arte islâmica “Beauty and Belief” (Beleza e Crença) de 2012, organizada pela BYU.
- Conferências da BYU sobre o Islão. Estes intercâmbios académicos entre estudiosos do Islão são uma das tradições mais antigas da universidade.
Sobre o item final, o Elder Gong deu nota que um estudioso do Islão disse que “aqui [na BYU], entre os crentes religiosos, sinto que partilho um oásis espiritual no meio do deserto secular moderno”.
Os dois apóstolos leram um recurso futuro, um novo panfleto chamado “Os Muçulmanos e os Santos dos Últimos Dias: Crenças, Valores e Estilos de vida”. Isto vai ser publicado na aplicação da Biblioteca do Evangelho. O Elder Bednar disse que o documento é fruto de anos de trabalho, inclusive a colaboração com imãs muçulmanos.
O documento descreve áreas de terreno comum e observa as principais diferenças de crença. Isto inclui o seguinte:
- A fé num Deus omnisciente e omnipotente é uma crença fundamental.
- O papel vital dos profetas para oferecer orientação de Deus.
- A revelação de Deus dada por intermédio de mensageiros como escritura é a base para aprender a vontade de Deus, cumprir compromissos e participar na adoração fiel.
- Os seres humanos devem comunicar-se com Deus através da oração diária.
- Deus deleita-se na pureza e castidade.
- Ambos valorizam as mulheres e o seu papel essencial na sociedade e no lar.
- A família é a unidade fundamental da sociedade e uma fonte essencial de alegria.
- Jesus Cristo desempenha um papel importante, embora diferente, para ambos os grupos.
“Jesus Cristo ensina que os dois grandes mandamentos são amar a Deus e amar uns aos outros mais”, disse o Elder Gong. “Uma compreensão maior uns dos outros ajuda-nos a amar uns aos outros. Que aprendamos a partilhar e a compreender de forma aberta e precisa, para que possamos reunir-nos com as mãos estendidas do respeito e da boa vontade, e não com os punhos cerrados da ignorância ou do antagonismo”.
Aos amigos muçulmanos presentes na terça-feira à noite, o Elder Bednar expressou o desejo sincero da Igreja de “unir-se a vós para fazer o bem”. Ele orou para que “o Deus de Abraão, o Deus de todos nós, zele e abençoe cada um de nós neste esforço importante e essencial”.