A Liberdade Religiosa é tanto um Dever para com Outros como um Direito Individual
“O conflito e o debate são vitais para a democracia. No entanto, se as controvérsias acerca da religião e da política servem para refletir sobre a mais suprema das sabedorias da Primeira Emenda e promover os melhores interesses dos litigantes e da nação, assim sendo, o modo como debatemos, e não só os temas que debatemos, é fundamental” — The Williamsburg Charter[1]
Os Deveres da Liberdade Religiosa
Existe um paradoxo na liberdade religiosa - um ganho genuíno que decorre de uma perda aparente. O dilema é algo do género: Se deseja que as suas crenças religiosas sejam protegidas, deve proteger as crenças religiosas que diferem profundamente da sua. Isto não significa que concorda com essas crenças, mas exige que as respeitem. [2] A coexistência de crenças e verdades contraditórias não é fácil. No entanto, “a liberdade religiosa para mim, mas não para ti” não funciona, especialmente num mundo tão diversificado como o nosso. Séculos de conflito sectário demonstram que tais atitudes degradam a liberdade de ambas as partes. A forma de garantir a própria liberdade é assegurar a liberdade de todos.
A liberdade religiosa é tanto um dever como um direito e tanto a obrigação de dar como o privilégio de receber. . Os frutos da liberdade religiosa dependem do trabalho árduo e contínuo das comunidades na tarefa de nutrir o civismo, o respeito e a reciprocidade – a rua de dois sentidos da virtude cívica. Apoiar a liberdade religiosa faz parte de uma sociedade justa e livre. Tais responsabilidades e benefícios não são apenas a herança de uma constituição honrada. Eles moldam o modo como vivemos a nossa vida no dia-a-dia
Esta obrigação mútua baseia-se na dignidade de cada indivíduo e na consciência moral que orienta o arbítrio humano. Cumprir com este dever é o grande teste de uma sociedade pacífica. Tendo sido alvo de perseguição e intolerância no passado, os membros de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias sentem empatia pelos grupos religiosos minoritários que passam pelo mesmo. Um espírito de solidariedade inspirou Joseph Smith, o profeta fundador da Igreja, e levou-o a afirmar: “É um amor pela liberdade que inspira a minha alma - a liberdade civil e religiosa para toda a raça humana”.
O Civismo e as Suas Consequências
Grande parte desta responsabilidade recíproca passa pelo modo como nós, cidadãos, nos tratamos uns aos outros. A nossa interação com o público revela quem somos como povo e que tipo de sociedade escolhemos construir. Esta interação define continuamente os nossos valores. Um cuidado constante é necessário para cultivar as boas maneiras e as liberdades da civilização.
As palavras que proferimos, e o modo como as proferimos, fazem toda a diferença. A necessidade de civismo não exige que os cidadãos escondam as suas crenças ou as subvalorizem para sugestões agradáveis. Um debate significativo pode ser tanto humano como vigoroso. O civismo é um chamado que garante que todas as vozes são ouvidas e respeitadas, mesmo quando não se chega a nenhum acordo. As organizações e os indivíduos religiosos são responsáveis por apresentar os seus pontos de vista de modo razoável e respeitoso para que possam contribuir para uma discussão produtiva. A intensidade da democracia pluralista necessita de ser temperada pelo discurso maduro onde lados opostos expressam as suas opiniões sem menosprezar crenças.
O debate de ideias opostas - o sinal de uma democracia saudável - ensina os cidadãos a reconhecer e a respeitar as suas diferenças mais profundas. Como concidadãos devemos sempre falar com compaixão e demonstrar paciência para com aqueles que discordam de nós. Nós promovemos a tolerância e o respeito, quando possuímos tais qualidades. Ninguém deve ser denegrido por aderir à sua consciência moral.
Uma Atmosfera de Boa Vontade
O Elder Dallin H. Oaks, do Quórum dos Doze Apóstolos, suplicou: “Como crentes, devemos enquadrar os nossos argumentos e posições de forma a contribuir para a discussão e acomodação razoáveis, tão essenciais para um governo democrático numa sociedade pluralista. Deste modo, contribuiremos para o civismo que é essencial para a preservação da nossa civilização.”
Ao se esforçarem por expressar e promover os seus valores de forma a convencer as pessoas no seio das suas comunidades, os Santos dos Últimos Dias juntam-se à multidão de vozes que se preocupam com o bem-estar da sociedade. O Presidente da Igreja Thomas S. Monson, captou esta aspiração quando disse: “Como igreja, procuramos alcançar não só o nosso povo, mas também as pessoas de boa vontade de todas as partes do mundo, num espírito de fraternidade que emana do Senhor Jesus Cristo.”
Enquanto os seres humanos continuarem a organizar-se em sociedades, a agir de acordo com a própria consciência e a prestar declarações da suprema verdade, surgirão sempre diferenças profundas e muitas vezes incompatíveis. O paradoxo da liberdade religiosa continuará a exigir o cumprimento do dever mútuo do civismo. A promoção desta liberdade é uma “rua com dois sentidos”.
[1] The Williamsburg Charter, Summary of Principles, 1988. Elder Dallin H. Oaks assinou este documento em nome de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
[2] Ver W. Cole Durham, “The Doctrine of Religious Freedom,” discurso do devocional da BYU (3 de Abril de 2001).