Comentário

A Importância da Religião: O Sal da Sociedade

"A Religião é o grande criador de comunidades." — Rabbi Jonathan Sacks [1]

Nas culturas dos tempos antigos, o sal era um símbolo de amizade, compaixão e generosidade. O povo de Israel reverenciava-o como o sinal de um convénio. Os Persas consideravam-no um emblema de virtude e graça divina. A cultura Árabe estimava-o como um gesto de boa vontade. Jesus comparou os seus seguidores ao "sal da Terra" [2] e disse-lhes que deviam viver “em paz uns com os outros.” [3]

Os Cristãos interpretaram estas palavras como um chamamento para apoiarem a sociedade onde viviam. Sempre fomos criaturas sociais e hoje em dia essa metáfora ainda tem uma conotação espiritual. A religião, assim como o sal, reflete as interações entre estranhos, dá sabor às nossas relações cívicas e preserva aquilo que mais apreciamos na nossa existência comum. Ser o sal da sociedade significa apaladar o sucesso da mesma. 
 
As sociedades são organismos complexos com inúmeras camadas, dimensões, facetas e sensibilidades. O governo, o comércio, as artes, as famílias e as escolas, todos desempenham um papel na revitalização do corpo político. E a religião pode ajudar a avivar essas associações, incutindo-lhes um rumo moral, um compromisso com a caridade e a força da dignidade. 

O Reservatório Moral
Herdamos a religião como um reservatório ao qual toda a sociedade pode recorrer. A linguagem da lei e da política ainda detém uma moral gramatical. A nossa compreensão dos direitos e deveres provém de ideais religiosos. Os nossos feriados mais preciosos e celebrações coletivas possuem um significado religioso. Por detrás de muitas das nossas petições como comunidade encontram-se as devoções de uma congregação. Embora a religião não detenha o monopólio sobre a moralidade, condiciona o nosso ambiente comum e molda as nossas noções do que é certo ou errado. Ao refletir sobre aquilo a que chamam “as lições da história,” os estudiosos Will e Ariel Durant comentaram: “Não existe nenhum exemplo significativo na história, anterior à nossa época, de uma sociedade bem-sucedida capaz de manter valores morais sem a ajuda da religião.”[4]

Na realidade, o reservatório de ideais da religião transborda para que todos possam vir e beber. Mas o sabor dessa água nem sempre é doce. A religião é uma fonte de sabedoria que impõe desafios, confrontos e contestações. As suas vozes frequentemente rompem com a moda de determinada era. Os valores religiosos resistem às tendências da vida moderna na satisfação dos apetites dos consumidores em massa. O Ravi Jonathan Sacks declarou que as religiões "são como o narrador do canto da sereia de uma cultura que por vezes parece valorizar mais o indivíduo sobre o coletivo, os direitos sobre as responsabilidades, o receber sobre o dar, o consumir sobre o contribuir e o sucesso sobre o servir ao próximo." [5]

A Caridade e o Capital Social

O valor da religião é tão audível por meio da “sopa do pobres”, dos hospitais, das escolas e de inúmeras outras obras humanitárias, como por meio de sermões e hinos. Por outras palavras, a religião constrói o capital social. As pesquisas revelam que mais de 90 porcento daqueles que frequentam reuniões de carater religioso semanalmente fazem doações para a caridade e quase 70 % servem como voluntários em causas humanitárias. [6]

O envolvimento religioso incentiva a oferta e esse ato de dar acaba por trazer benefícios também a quem dá. Investigadores da Universidade de Yeshiva observaram as práticas religiosas de quase 100.000 mulheres e descobriram “uma forte ligação entre o ir à igreja ou à sinagoga ou a qualquer outro estabelecimento de adoração e uma visão positiva da vida.” [7]

Em simultâneo, um estudo dos Judeus Israelitas revelou que a frequência às reuniões de adoração e a oração estão associadas a uma maior felicidade, satisfação na vida e bem-estar.[8]

As pessoas religiosas contribuem grandemente para a vitalidade e coesão da sociedade. O histórico estudo “American Grace” revela que as pessoas religiosas são “vizinhos mais generosos e cidadãos mais conscienciosos do que os seus homólogos seculares.”[9] Esta atitude de caridade expressa-se por meio de pequenos atos semelhantes. Por exemplo, aqueles que vão à igreja com frequência são mais propensos a dar dinheiro a um sem-abrigo, a devolver o troco em excesso a um operador de caixa, a doar sangue, a oferecer o lugar a um estranho, a ajudar outro a encontrar trabalho e muito mais. [10]

Dignidade e Civismo

Ir à igreja e participar na vida e nos interesses de outros coloca-nos num estado mental de civismo. As mesmas pesquisas revelam que as pessoas religiosas são mais propensas a integrar organizações comunitárias, contribuir para a resolução de problemas comunitários, participar na vida cívica e política local e impulsionar a reforma política ou social.[11] As pessoas de fé tornam os seus vizinhos, cidades e nações locais melhores.

No entanto, pertencer a uma sociedade e desfrutar dos seus benefícios é um "pau de dois gumes" — repleto de deveres para com os outros e de direitos para connosco. Por alguma razão esta sabedoria antiga, que cruza épocas e culturas, é conhecida como a "Regra de Ouro". “Faz aos outros o que gostarias que te fizessem a ti” é a base da moralidade cívica. Religiosos e seculares concordam que esta obrigação mútua expõe uma verdade relativa à dignidade inerente a cada indivíduo e à consciência moral que orienta as nossas escolhas. Enquanto os seres humanos continuarem a organizar-se em sociedades, a trabalharem as suas diferenças e a dependerem da boa vontade uns dos outros, o sal da religião desempenhará um papel importante na preservação do que é bom. 
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[1] “Charles Taylor e Jonathan Sacks on the Future of Religion,” YouTube, McGill University event.
[2] Mateus 5:13.
[3] Marcos 9:50.
[4] Will and Ariel Durant, The Lessons of History (1996), 51.
[5] “Chief Rabbi Lord Sacks on the Role of Religion in Society,” YouTube, British House of Lords speech.
[6] Arthur C. Brooks, “Religious Faith and Charitable Giving,” Policy Review, Out. 2003. Estatísticas semelhantes encontram-se no “Faith Matters Survey 2006,” conforme citado no American Grace: How Religion Divides and Unites Us.
[7] Eliezer Schnall, “Women's Health Initiative observational study,” Journal of Religion and Health, Nov. 2011. Ver também Gabe LaMonica, “Study Links Regular Religious Service Attendance, Outlook on Life,” CNN Belief Blog, Nov. 10, 2011.
[8] Jeff Levin, “Religious Behavior, Health, and Well-Being Among Israeli Jews: Findings From the European Social Survey,” Psychology of Religion and Spirituality, Nov. 2013.
[9] Robert A. Putnam e David E. Campbell, American Grace: How Religion Divides and Unites Us (2010), 444.
[10] American Grace, 451.
[11] American Grace, 454-456.

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